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domingo, 29 de setembro de 2013

Pai banca o super-herói para agradar filho de três anos com leucemia

29/09/2013 

Para animar o menino de 3 anos, ele já foi Sr. Incrível e Homem-Aranha
Iniciativa ajuda família a lidar com as dificuldades do tratamento

Roberta OliveiraDo G1 Zona da Mata
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Paula, Paulinho e Octávio 1 (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)Paula, Paulinho e Octávio no início do tratamento
(Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)
Esta é uma história de amor e de coragem. Envolve super-heróis, mas eles são apoio para os verdadeiros protagonistas: uma família em Juiz de Fora que enfrenta um vilão que assusta, mas não é imbatível: a leucemia. Há cinco meses Paulo, de apenas três anos, foi diagnosticado com a doença. A família se mobilizou para  lidar com a situação de uma forma positiva. No entanto, quando a tristeza começou a ganhar espaço, os superheróis entraram em ação.
O ano de 2013 está sendo um exercício de coragem e perseverança diária para a professora da Faculdade de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paula Chagas, mãe de dois filhos, Paulo Sérgio e Arthur, de 10 meses. Paulinho como é carinhosamente chamado pelos pais, começou a ter sintomas em 22 de abril. Pela cabeça da mãe passaram todas as doenças possíveis – dengue, mononucleose, alguma infecção – menos leucemia. “A suspeita de diagnóstico é a pior coisa, pior até que o próprio diagnostico. Faltavam 10 dias para ele fazer 3 anos. A primeira coisa que passou na cabeça é que a morte vai vir”, contou Paula, em entrevista ao G1.
Em 25 de abril, exames constataram que era leucemia linfoide aguda e no dia seguinte, ele começou o tratamento. “Veio aquele choque inicial, em seguida a decisão, vamos encarar com a certeza de cura. Temos que enfrentar da melhor forma possível”, relembrou.
As aventuras
Os super-heróis foram convocados para ajudar Paulinho a conviver com as fases do tratamento. Quando a contagem de plaquetas melhorou, a mãe conta que ele foi operado para a colocação de um cateter no peito, para facilitar a aplicação do medicamento. “Aí a gente falou pra ele que era igual ao dispositivo do Ben 10. E que ele iria receber soro de alienígena para poder combater a doença”, comentou Paula.
O menino passou a brincar afirmando que estava no hospital para “colocar gasolina” durante todo o primeiro protocolo de quimioterapia. Pouco tempo depois, Paulinho teve queda de imunidade e uma infecção oportunista. Paula conta que ele ficou 15 dias internado. Foi o primeiro baque. O segundo foi que a punção feita ao final do ciclo diagnosticou que o menino ainda tinha 10% de células alteradas no organismo, quando o esperado era que não houvesse nenhuma. O tratamento mudou e Paulinho passou para o grupo de alto risco.
Para animar o filho, Paula levava DVDs que ele gostava e teve a ideia de comprar o desenho animado “Os incríveis”, da Disney-Pixar. “Paulinho adorou. Ele disse que era o Flecha e que o pai era o Sr. Incrível”, contou a mãe.
Octávio e Paulinho Sr Incrível (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)Octávio "Sr. Incrível" e Paulinho "Flecha" ao final do primeiro ciclo de tratamento (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)
E esse foi o motivo que fez Octávio Fernandes superar a timidez. Ele decidiu ir buscar o filho no hospital vestido de Sr. Incrível. “Quando eu vi que ele queria ser visitado por um super-herói, pensei como ia fazer. Pensei em pegar a roupa e me vestir lá, mas ai perde o encanto”, contou. A solução foi sair fantasiado da loja, no centro de Juiz de Fora, até o hospital, no bairro Dom Bosco. “A vendedora achou que eu estava brincando, mas paguei o aluguel e saí. Nesse dia, estava sozinho. Algumas pessoas olhavam, davam tchau, riam”, relatou.
Octavio conta que ao colocar a fantasia, vestiu o personagem: “Você não quer sujar a imagem do super-herói. Eu falei para uma menina que distribuía panfletos no cruzamento: ‘Se tiver algum problema, só me chamar’. Ela gargalhou tanto que teve que se sentar no chão. Você sente vontade de ser gentil com as pessoas”, explicou o pai.
Entre os funcionários do hospital, Octávio conta que a reação foi de surpresa. “Quando cheguei como Sr.  Incrível, a menina da garagem me disse: ‘Não acredito que você esta fazendo isso!' e eu entrei pela porta automática fingindo que a abri com o meu poder”, relembrou.
E a aventura segundo ele valeu a pena. “Do jeito que ele ficou feliz, valeu, com certeza”, sintetizou.
Paula relatou a reação do filho com a supresa. “Quando ele chegou no quarto, o Paulinho estava numa fase ruim, foi o primeiro ciclo pesado, ele sentiu muito, teve mucosite e ficou triste. Ele não era assim. E quando ele chegou de Sr. Incrível foi aquela felicidade, Paulinho então se vestiu de Flecha e andou pelos corredores com o Sr.Incrível', comentou.
Octávio e Paulinho Homem Aranha (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)"Homem Aranha" e 'Menino Aranha" no hospital
(Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)
No segundo ciclo de quimioterapia, o menino também teve efeitos colaterais como mucosite e infecção intestinal. Desta vez, segundo Paula, ele escolheu o super-herói. “Quando ele estava começando a melhorar a gente perguntou quem ele queria que viesse e ele falou que queria o Homem Aranha. Desta vez, como sabia que viria, ficou esperando, olhava o tempo todo para fora do quarto”, analisou a mãe.
Octavio voltou à loja, desta vez, acompanhado do filho mais velho, de 20 anos,  que foi promovido a motorista do Homem Aranha.  Octavio relembrou a reação das pessoas, segundo ele, passou um cara de moto por eles e saudou, 'aê  Homem Aranha'.  Depois, no elevador do hospital uma moça perguntou se ele era o pai do Paulinho.
Octavio explica que as visitas foram no fim do tratamento. “No auge do problema, ele não aguenta. Ele não abre nem brinquedo, fica muito deprimido. Quando a gente sabe que está no fim do ciclo, é para libertá-lo”, analisou.
O pai teve até o cuidado de inventar vozes para os super-heróis, mas é reconhecido pelo filho. “No fim, ele acaba descobrindo. Ele também usa fantasia. E quando quer colocar de novo pede a mãe para que eu também me vista", relatou. O sentimento das visitas mascaradas Octávio resumiu em uma frase - Super-herói ganha abraço que o pai não ganha.
Lições que ficam
A médica Andrea Nicolatto está cuidando de Paulinho. Ela afirma que a iniciativa ajuda no tratamento. “É uma forma de aceitar o atendimento. Fica mais fácil de tratar quando a família está envolvida. Ele não deixou de sonhar. A família tem conhecimento da doença, mas eles não fazem com que a criança deixe de ser criança”, explicou.
A médica informou que Paulinho vai passar pelo último ciclo de quimioterapia mais forte, mas o tratamento continua por dois anos e meio, além de cinco anos fazendo controle. “Ele tem 80% de chances de curar. E eu acredito na cura”, disse a médica.
Octávio e Paulinho Homem Aranha 2 (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)De acordo com a médica Andrea Nicolatto, o envolvimento da família ajuda no tratamento (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)
Em meio às exigências do período difícil e delicado, Paula Chagas se lembra do apoio que encontrou na Fundação Ricardo Moyses, que ampara famílias com pacientes com câncer, onde ela conseguiu o tratamento para a mucosite. Quando não é na Fundação, a dentista da família vai ao hospital tratar do menino e também embarcou na inciativa. De acordo com Paula, ela leva os adesivos de super-heróis para o menino brincar.
Paula elogiou o atendimento recebido na cidade. “Somos muito bem cuidados aqui, o Paulinho é tão especial, bem atendido. É um protocolo internacional de atendimento, mas tem o diferencial do carinho, principalmente quando se trata de uma criança”, comentou.
Para o futuro, uma promessa já foi garantida.“Quando ele sair dessa, vou virar doadora de sangue. Agora não posso doar. Eu e o pai dele somos reserva para casos de necessidade. A gente só percebe como é importante quando precisa. A cor dele, o astral dele muda após uma transfusão”, ponderou.
Para Octávio Fernandes, a mensagem deste período é de esperança.  “Quando você tem a noticia, a sensação é de velório. Na primeira semana, a gente não conseguia falar no telefone com qualquer pessoa sobre ele, que chorávamos. O câncer ainda é visto como uma doença quase sempre fatal. Hoje a gente não sente mais isso, temos certeza de cura”, afirmou ele, reforçando que todo o incentivo vem do filho.
“O Paulinho com 3 anos luta de uma forma que alguém mais velho talvez não lutasse. A coragem vem dele. Ele nos passou essa coragem, ele nos motivou a sermos assim como ele”, sintetizou.
A repercussão de ser super-herói foi grande. “A gente não esperava. Era uma obrigação pra ajudar a ele, que está passando por uma barra muito pesada. Porque é muito injusto uma criança passar por isso. Eu sempre vou achar que está errado, que não era para ser assim. Mas foi. Nem tudo é como agente quer”, desabafou o pai.
Paulinho será internado na próxima semana para o terceiro ciclo de quimioterapia. Não será nenhuma surpresa se, em breve, o Batman estiver passando de carro nas ruas de Juiz de Fora. A missão dele será resgatar Paulinho após a próxima batalha e levá-lo para a casa.
Paula, Paulinho e Octávio 2 (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)"Ele nos passou essa coragem. Ele nos motivou a ser assim como ele", disse Octávio (Foto: Paula Chagas/ Arquivo Pessoal)

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